28/02/2018

O tratamento do erro em aula de idiomas e as estratégias de aprendizagem.

No decorrer do processo de aprendizagem de línguas estrangeiras nos certificamos que os alunos cometem muitos erros, absolutamente necessários por sinal.

No início, os erros são bem divertidos, porém devemos prestar bastante atenção, uma vez que são ilustrativos do processo e nos devem conduzir para investigarmos sua origem e motivo que depende do estágio em que os erros são produzidos.

Contudo, os erros, são um enorme desafio para o professor de idiomas, já que geralmente seu desejo de corrigir é maior e poderá leva-lo a interromper a comunicação, impedindo que o aluno faça suas hipóteses com o objetivo de supera-los, sendo este caminho muito mais eficaz que a correção.

A preocupação por identificar e intentar melhorar os erros dos alunos é uma didática constante para o professor de línguas.  No entanto, a ANÁLISE DE ERROS (AE), como corrente de investigação, muda a visão do erro que tanto professores quanto alunos temos tradicionalmente.

O método de trabalho da ANÁLISE DE ERROS é também diferente, uma vez que o ponto de partida não é a comparação de duas línguas (em questão, português-espanhol), como na ANÁLISE CONSTRASTIVA, senão das produções reais dos alunos.  A partir dessas produções se consideram os seguintes passos:

1) Identificação dos erros em seu contexto;
2) Classificação e descrição;
3) Explicação, buscando mecanismos ou estratégias psicolinguísticas e fontes de cada erro (considerar a
    possibilidade de interferência da língua materna (LM) como uma estratégia a mais);
4) Se a análise tem pretensões didáticas, avalia-se a gravidade do erro e procura-se solução.

A grande mudança agora é a nova concepção dos erros, que, além de ser um passo obrigatório para apropriar-se da língua meta, é índice do processo que segue o aprendiz nesse caminho, processo e caminho que constituem uma das grandes questões sobre as que giram as investigações acerca da aprendizagem geral e a aprendizagem de línguas, estrangeiras em particular.

A fundamentação psicolinguística para estas colocações deriva da aplicação à aquisição da Língua Estrangeira ou Língua Segunda, das investigações realizadas a respeito da Língua Materna, a partir dos trabalhos de N. Chomsky, aquisição que ocorre como um processo criativo da criança, colocado em prática como um mecanismo interno capaz de construir a gramática de uma determinada língua começando pelos dados aos que está exposto.  Da mesma forma, se prevê que algumas das estratégias adotadas pelo aprendiz de uma língua estrangeira poderão ser as mesmas que permitem a aquisição da Primeira Língua (L1)).

Desde o ponto de vista didático, o valor do erro como passo obrigatório na aprendizagem conduz à "perda do medo a errar", e a não mais considera-lo como um "pecado".

O Enfoque Comunicativo para o ensino de línguas mantêm essa atitude, levando o aprendiz a praticar suas hipóteses em situações de interação autêntica.

Do erro como índice de estágio que atravessa o aluno, passa-se ao conceito de INTERLÍNGUA, como sistema próprio de cada estágio.

O conhecimento da INTERLÍNGUA tem metodologia privilegiada na ANÁLISE DE ERROS, porém não sozinho, uma vez que nesse "sistema aproximado", existem estruturas diferentes às da língua meta - as formas erradas - , porém também se produzem estruturas corretas, de acordo com a nova língua.  Justamente o avanço que supõe o maior risco na produção, eleva, desde o ponto de vista quantitativo, um aumento de erros, o que não significa retrocesso, e sim progresso.

Desde a perspectiva da INTERLÍNGUA, como "dialeto idiossincrático" ou "competência transitiva" as produções dos alunos funcionam com suas próprias regras, por tanto, é a partir daí que devem ser avaliadas e não desde a norma da língua meta.

Caso professores e alunos tivéssemos a convicção de que os erros não são somente ineludíveis senão também necessários, seria evitado a inibição, facilitando superar os erros , ganhando tempo para criar condições favoráveis para a interação e progresso dos alunos em sua comunicação.


AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM

Estratégias, mecanismos, táticas, planos, procedimentos... são termos que implicam AÇÃO e que referindo-se à aquisição-aprendizagem de línguas estrangeiras supõem no aprendiz um protagonismo ativo diante da apropriação da nova língua.  Em termos gerais, entende-se cada uma das operações que realiza o aluno, de forma mais ou menos consciente, no processo de assimilar os dados disponíveis de uma forma mais fácil, rápida, agradável, eficaz e transferível a novas situações e contextos.

De acordo com a ANÁLISE DE ERROS, na tentativa de encontrar explicação para o por que se produzem os erros, teremos condições de saber como se aprende melhor ou se adquire uma língua estrangeira.

a ANÁLISE DE ERROS, de sua evolução e superação, tudo no contexto da produção global do aprendiz, resulta da utilização de estratégias cognitivas, mas também das estratégias meta-cognitivas e sociais, estratégias tais como a generalização de uma regra da língua meta (que produz erros de híper-generalização), ou acudir à Língua Materna ou a outra língua estrangeira (que poderá provocar interferência), funcionam sempre no processo de aprendizagem.  Por estágio são observadas algumas tendências:


Estágios Iniciais:

1) Estratégias interlinguais (recorre direto à língua materna ou outra língua estrangeira);
2) Neutralização de oposições;
3) Imitação de frases feitas;
4) Redução das marcas com menos carga semântica;
5) Uso das formas menos marcadas ou mais usuais;
6) Síntese do que se pretende comunicar;
7) Repetições que pretendem ser aclaratórias;
8) Evasão e inclusive abandono.


Estágios Intermediários:

1) Predominam estratégias interlinguais (generalizações de paradigmas; inferências; analogia com formas próximas; cruzamento de estruturas próximas; hiper-correções; paráfrases);
2) Persistem estratégias da etapa anterior;
3) Aumenta o risco e a produção;
4) Parece que aumentam os erros (diminuem em relação à produção);
5) Aparecem ou aumentam erros relativos às estruturas mais complexas e diversidade de registros.


Estágios Avançados:

1) Se consolidam hipóteses válidas e as estratégias ficam perto das que utiliza o falante nativo;
2) Auto-correção diante dos erros fossilizáveis.


PARA CONCLUIR:

- O erro não é um pecado; é um mecanismo ativo, necessário para aprender, é ineludível.
- O erro ajuda-nos a entender como se aprende uma língua estrangeira, quais são seus estágios, quais são
  os processos que se colocam em jogo e qual é o momento em que situa o aprendiz.
- O erro coloca em evidência as falhas metodológicas que é necessário corrigir.
- Uma ANÁLISE DE ERROS cuidadosa assinala quais são as estruturas concretas que criam problemas para
  o aprendiz e por que. Tudo indica que essa análise deveria ser um requisito prévio para uma programação
  didática adequada.


O TRATAMENTO DO ERRO
Partindo da premissa que os erros são necessários para aprender e ilustram o processo de aprendizagem de nossos alunos, o que faremos com os erros em aula de idiomas?, deixamos de lado?, corrigiremos?, quando?, como?...

Na verdade, é um tema clave para o professor, entrando em jogo dois planos:

1) A diversidade dos erros;
2) A dinâmica da mesma aula.

A ANÁLISE DE ERROS nos propõe uma divisão clássica entre ERROS SISTEMÁTICOS - EVENTUAIS, TRANSITÓRIOS - FOSSILIZÁVEIS/FOSSILIZADOS, COLETIVOS - INDIVIDUAIS.


- ERROS SISTEMÁTICOS.
  São aqueles que se repetem em uma determinada fase e que permitem observar certas irregularidades  
  que fazem parte da INTERLÍNGUA desse estágio.  Diante destes, poderão aparecer ERROS EVENTUAIS,
  que, de alguma forma, são incontroláveis.  Didaticamente, a atenção se centrará nos erros sistemáticos,
  procurando descrever não só o que ocorre, senão buscar também o mecanismo e a fonte do erro para
  facilitar supera-los.

- ERROS TRANSITÓRIOS.
  São os relativos ao típico desenvolvimento que caracteriza uma etapa da aprendizagem e que tendem a
  desaparecer.  Se o professor é consciente que são erros de desenvolvimento, será capaz de acompanhar
  mais de perto o processo e orientar as ações didáticas da forma mais rentável possível.  Ex.: Se uma criança
  interatua em sua comunidade linguística poderá evoluir e modificar progressivamente suas estruturas.
  Na aprendizagem de uma língua estrangeira o aluno passa por etapas semelhantes, nas que a partir de
  dados irá induzir regras, embora parciais ou muito generalizadas, que poderá matizar caso a motivação pela
  aprendizagem e comunicação continuam  e tem a possibilidade de contar com um contexto estimulante onde
  possa praticar as hipóteses.  A dinâmica das aulas deve prever um método no qual se estimule o interesse
  ou a necessidade de comunicação, se provoque a formação de hipótese, se disponha do material e das
  situações  nas quais possa ensaiar, negar ou confirmar as hipóteses e ajude à conceptualização,
  consolidação e recuperação dos novos aspectos.

A pesar de tudo isso, corrigimos ou não?

Caso o aprendiz esteja tentando comunicar algo, com atenção centrada no sentido, a correção passa inadvertida, a não ser que ele tenha a dúvida, uma dupla hipótese e a ajuda do professor venha favorecer a confirmação da validade.  Em qualquer caso, e tendo em conta o resto da classe, pode-se praticar a "correção comunicativa": se somos um a mais na interação, podemos intervir como fazemos numa conversação normal, ofertando a palavra que falta, retomando uma frase, resumindo uma postura, etc., de forma a não interromper a comunicação, ao contrário, dar a oportunidade de ouvir de maneira correta uma determinada estrutura.

Em relação à comunicação escrita, primeiramente teremos que reagir  como interlocutor e não como corretor, no intuito de não distorcionarmos o processo de aprender a escrever na língua estrangeira.  Logo, podemos propor a correção o mais interativa possível, possibilitando ao aluno se plantear a dúvida, buscar, indagar, refletir, etc., centrando-nos no tema que estamos trabalhando.


- ERROS FOSSILIZÁVEIS.
  São aqueles que se repetem em fases sucessivas e que oferecem maior resistência, seja pela
  complexidade da estrutura, por um problema de interferência ou outra contaminação.  Geralmente, se
  centram em oposições singulares da língua meta, quando complexas e invariáveis ou quando a oposição é
  semelhante à língua materna, porém se diferenciam em algum matiz que, às vezes, não captamos (Ex.: I
  R/VIR).  Também, os pontos onde existe forte polissemia, como nas preposições ou aqueles em que a
  interferência  da língua materna é muito intensa (Ex.: problemas fonéticos)  A ação didática deve conduzir o
  aluno ser consciente do problema e coloca-lo em situação de analisar a causa e reorganizar suas hipóteses. 
  Ao mesmo tempo, é necessário encontrar o momento para o "trabalho possibilitador", centrado na forma, de
  modo a favorecer a aquisição mediante atividades apropriadas (incluso a mecanização o mais lúdica
  possível, com linguagem e interação autênticas, sobre as funções, frases, estruturas onde aparece o erro
  com maior frequência).

- ERROS FOSSILIZADOS.
  São os que se fixam e não evoluem.  São os típicos erros de povos estrangeiros pouco integrados na
  sociedade, chegando a constituir uma variante da norma estándar, ou outros minoritários que aparecem
  involuntariamente em situações especiais de cansaço ou de nervoso, e que o próprio autor emenda.  Esses
  erros não aparecem corrigíveis , sendo a tolerância nossa  melhor postura.

- ERROS COLETIVOS.
  Diante dos erros individuais, são os que caracterizam um grupo de alunos que tem em comum a língua  
  materna, ou aqueles erros gerados por dificuldades específicas da língua que se aprende.  Desde o ponto d
  e vista didático, parece obvio nos preocuparmos pelos erros coletivos antes dos individuais , e não somente
  pela rentabilidade quantitativa, senão porque a tendência é a desaparecer ou obedecem à razão
  personalidade do aluno ou outro problema específico.  Outra causa para os erros coletivos poderá residir na
  mesma apresentação didática dos fatos linguísticos, podendo falseá-los se simplificados ou no caso de
  apresenta-los fora de contexto, ou no caso, também, de propor noções exceções excessivas.


VALOR REAL DO ERRO.  AVALIAÇÃO.

Existe 1º, 2º e 3º grau do erro?  Esta é outra das questões que preocupa o professor de línguas.  Para tanto, segue uma situação e duas produções, de modo a refletir e decidir qual das duas poderá ter consequências mais delicadas ou mais graves:

No emprego, o funcionário imigrante dirige-se ao seu superior/chefe:

- Oye, súbeme el sueldo.  (Hein, cara, aumenta meu salário).

- Por favor, ?poder hablar?  (Por favor, pode falar?).

  Yo perguntar a usted la aumentación...  (Pergunto-lhe pelo aumento...).


A primeira produção é gramaticalmente correta, porém absolutamente inadequada à situação.  Esse erro terá consequências muito (mais) graves.

Se uma língua se aprende para ser utilizada em diferentes situações, o CRITÉRIO DE ADEQUAÇÃO é muito m ais importante que o CRITÉRIO DE CORREÇÃO.  Do mesmo modo, serão mais graves os erros que mais distorcionem a comunicação, tais como os relativos ao "léxico" e "organização do enunciado"/oração.

A este critérios comunicativos se somam, desde outros pontos de vista, o CRITÉRIO DE GENERALIDADE DA REGRA AFETADA e o CRITÉRIO DE FREQUÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DO ERRO.

Para concluir, "errar é humano", pois é nossa forma de aprender.  Os erros são estratégias, ensaios, passos necessários para aprender e umas piscadelas para o professor, investigador e o aprendiz, que nos indica por onde e como se caminha, assim como para mostrar-nos onde radicam as reais dificuldades.

"TODO ERRO É O INÍCIO DE OUTRA VERDADE".


Profª  Me. Agnes Valdés
Inglês e Espanhol para a Comunicação Profissional
METHODO Soluções em Idiomas
São Paulo, Brasil

(NOTA: Em 28/fevereiro/2018, com fins educativos).


Referências Bibliográficas

- CORDER, S. P. (1981): Error Analysis and Interlanguage.  Oxford University Press.
- KRASHEN, S. D. (1985): The Input Hyphotesis: Issues and Implications, Longman, London.
- LICERAS, J. (ed) (1991): La adquisición de las lenguas extranjeras, Visor, Madrid.
- SANTOS GARGALLO, I. (1993): Análisis Constrastivo, Análisis de errores e interlengua em el marco de
                                                      la linguística constrastiva, Síntesis, Madrid.
- WENDEN, A. e RUBIN, J. (ed) (1987): Learner Strategies in Language Learning, Prentice Hall, New
                                                               York.











Aulas de inglês e espanhol para a comunicação profissional
Tel. (11) 2372-3879 | 98491-2999
cursospersonalizados@methodoidiomas.com.br